O
especialista no setor de Óleo & Gás da UHY Moreira-Auditores,
Marcello Reis, comentou os resultados do leilão do campo de Libra
realizado hoje (21). A UHY Moreira tem forte atuação no setor e faz
parte de uma rede que atua em 86 países em todo o mundo. “O leilão do
campo de Libra apontou ao mercado que, mesmo com risco exploratório
relativamente baixo, as empresas concorrentes preferiram se unir em um
consórcio para se fortalecerem frente às incertezas do futuro no
Pré-sal. Por se tratar de características de exploração e produção não
dominadas em nenhuma parte do mundo, os pesados investimentos serão
assumidos por cinco diferentes empresas, incluindo a Petrobras, que
ficou com 40% do bloco (30% eram exigidos em edital)”. Além da empresa
brasileira, outras duas chinesas (CNPC e CNOOC), cada uma com 10%, são
de economia mista e têm grande influência governamental. Completam o
consórcio a anglo-holandesa Shell e a francesa Total, cada uma com 20%.
Segundo
Reis, desde a descoberta do Pré-Sal, há seis anos, e a necessidade de
desenvolvimento acelerado do segmento de O&G no Brasil, “nos
deparamos com alguns aspectos críticos que são abordados diariamente por
especialistas e empresários do setor”.
Com
as comprovações das enormes reservas (nas bacias de Santos e Campos,
estão concentradas 52 perfurações desde 2005, com índice de sucesso de
88%, frente a uma média internacional de 20% a 30%) e a perspectiva
exponencial de demanda futura de petróleo e gás, delineou-se para o país
um desenvolvimento vertiginoso desta indústria, e consequentemente, de
toda a cadeia de suprimentos que a compõe. A Petrobrás projeta um
crescimento de mais de 100% da produção atual até 2020, com
investimentos da ordem de US$ 230 bilhões até 2017.
“A
única proposta recebida pela Comissão Especial de Licitação (CEL),
conta com cinco das dez maiores empresas petrolíferas mundiais em valor
de mercado. Ademais, a formação de apenas um consórcio não desanimou os
especialistas nem o governo, que ainda comemoraram a participação da
Shell e Total, que era dada como incerta, assim como da BP, Petronas e
Mitsui, devido à partilha da produção com a União ser considerada
desvantajosa para empresas privadas. Ao final, a oferta única, e
vencedora do leilão, compromete-se com 41,65% do excedente de óleo
extraído para a União – quantidade mínima estipulada no edital”,
comenta.
Em
encontros técnicos realizados recentemente, às vésperas do 1º leilão
para exploração de áreas do pré-sal sob o regime de partilha, outros
pontos-chave foram colocados em debate, entre eles:
1) Local
Content – As regras para fornecedores de todos os tipos na cadeia de
suprimentos da Petrobrás são bastante rígidas. Por lei, os fornecedores
da indústria nacional, que incluem empresas estrangeiras estabelecidas
no Brasil, são prioritários, desde que possuam o credenciamento (CRCC) e
preencham os requisitos mínimos. Se não houver ofertantes nacionais
alinhados em preço e tecnologia com o mercado externo, abre-se
concorrência internacional (com participação dos nacionais habilitados).
Mas a Petrobrás e ANP não sabem dizer como e quando estas regras podem
sofrer alterações. Sabendo que agora duas empresas chinesas fazem parte
do consórcio de exploração de Libra, certamente pleitearão facilidades
para os fornecedores de seu país, já que o próprio governo chinês, no
caso, subsidiará toda a cadeia de suprimentos local. Isto com certeza
será objeto de discussões controversas e intensificará a entrada de
empresas estrangeiras no Brasil. Além disso, a questão do “conteúdo
local” não aborda apenas os aspectos legais, mas também os estratégicos
para o desenvolvimento sustentável do setor, portanto a chegada de
empresas fornecedoras de produtos e serviços para o setor de O&G é
inevitável e indispensável para a evolução da indústria e transferência
de tecnologia para o Brasil.
2) Intervenções
do governo – Como acionista majoritário da Petrobrás, o governo
brasileiro tem imposto certas diretrizes gerenciais, muitas vezes com
objetivos políticos, em detrimento dos estratégicos para o crescimento e
rentabilidade da empresa. Vide controle de preços dos derivados de
petróleo nas refinarias para controle da inflação do país, por exemplo.
Isto ainda é visto como um risco crítico para as empresas privadas, que
têm planejamentos de longo prazo rigorosos, compliance de governança
corporativa e investidores globais mais conservadores.
3) Gargalos operacionais – São
evidentes as deficiências atuais do mercado em termos de
disponibilidade de mão de obra especializada, equipamentos, serviços e
infraestrutura logística. O país corre para suprir as demandas que se
multiplicam a cada dia. As áreas de suprimentos das empresas operadoras e
participantes dos consórcios já existentes estão sobrecarregadas de
processos licitatórios e de concorrências públicas para atender à
engenharia e demais departamentos operacionais. Destacam-se o setor de
construção naval (barcos de apoio, sondas de perfuração etc), serviços
de EPC - Engeneering, Procurement & Construction, Consultoria e
Outsourcing, para no caso, empresas estrangeiras se estabelecerem e
desenvolverem seu core business mitigando riscos e prejuízos de caráter
burocrático e administrativo, crônicos no Brasil.
Nesta
linha, apesar das dificuldades, do “Custo Brasil” e do pessimismo que
rondam algumas reuniões técnicas e eventos do setor, encontramos um
cenário bastante promissor com o mercado extremamente aquecido,
principalmente para aqueles gestores que dispõem de recursos para
assumirem maiores riscos.
Assessoria- ADS Comunicação
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