Durante
a recente crise financeira global que causou turbulência no hemisfério norte,
dois países evitaram o pior da crise global, em parte graças aos seus
respectivos laços fortes com a China. Essas nações, que se beneficiaram, também
terão um papel importante no desenvolvimento econômico do gigante asiático no
século XXI. São elas Brasil e Austrália, duas grandes terras do sul, que têm
como características a vastidão, diversificação e foram considerados por seus
descobridores como muito, muito distantes.
Em
agosto, eu ajudei a liderar o evento Melbourne Latin America Dialogue,
promovido pela Universidade de Melbourne, para ampliar as relações entre
Austrália e a América Latina em diversos setores. Muitos dos participantes,
representando governos e empresas, falaram como, apesar das diferenças
específicas que existem entre Brasil e Austrália, os dois países têm muito a
compartilhar quando se trata da experiência no relacionamento com a China.
A
Austrália foi colonizada como uma prisão em uma grande parceria do setor
público privado (PPP), mas se transformou em três sociedades, os detidos, seus
carcereiros e as populações indígenas locais destituídas de suas terras. De
alguma forma, apesar deste começo humilde e das tensões geradas, a sociedade se
deu bem graças a grande quantidade de recursos naturais, como trigo, lã e ouro.
Outro ponto importante foi que os colonos livres do velho mundo se juntaram aos
presos e carcereiros, e, ao longo do tempo, esses últimos ficaram em minoria. A
China desempenhou um papel importante nesse desenvolvimento. Bob Hawke
desenvolveu laços estreitos com a China e ainda é bem conhecido na República
Popular até hoje.
O
outro país, o Brasil, não foi colonizado como uma prisão, mas sim sob o peso da
escravidão. O país também é vasto, mas geograficamente muito diferente. O
Brasil também teve que enfrentar problemas econômicos e os seus impactos ainda
eram sentidos até uma década atrás. Na maior parte de sua história econômica
recente, ele não teve inflação de dois dígitos e não precisou enfrentar o
desemprego, mas que teve problemas muito piores, como, deslocação do mercado de
mão de obra e pobreza em massa. Seu sistema financeiro não era antiquado, mas
sim disfuncional, houve problemas com as taxas de câmbio, taxas de juros e
encargos da dívida, além de greves, mas agitação social generalizada que
impactaram sua própria estabilidade democrática.
No
entanto, este País também tinha um líder sindical, Lula. Ele não estudara em
Oxford, era nascido no nordeste do país, fora preso por sua atividade
sindical e concorrera para presidente três vezes antes de ser eleito. Ele
também reformou a economia do país, mantendo fortes programas de justiça social
(muitos dos quais foram iniciados pelo seu antecessor, que era um conhecido
professor de sociologia, antes de se tornar Presidente). Como resultado, este
país agora também está economicamente bem posicionado para oferecer recursos
para o resto do mundo, para gerar prosperidade e elevar os padrões de vida de
seus cidadãos. Parece um longo período desde seus tempos de dificuldades,
especialmente nas décadas de 1970 e 1980.
Como
resultado, a percepção das pessoas sobre o Brasil tem mudado. E não é nenhuma
surpresa, dada a sólida taxa de crescimento econômico do Brasil (7,5% em 2010,
após a crise financeira mundial, e 2,7% em 2011), política fiscal e monetária
complacente, crescimento impressionante das exportações (novamente graças à
China) e, o mais importante, redução da evasão escolar e da pobreza absoluta.
Economistas brasileiros me disseram que mais de 33 milhões de pessoas foram
retiradas da pobreza. Na verdade, um dos meus anfitriões no Rio me disse que a
taxa de câmbio brasileira é tão forte "que até mesmo empregada minha está
indo de férias para Buenos Aires, para fazer algumas compras". Esta visão
foi sustentada pelos participantes do Diálogo entre Melbourne e América
Latina. Os países, assim como as pessoas, mudam, e a dinâmica do
Brasil passou por muitas transformações ao longo dos últimos dez anos, atraindo
uma atenção inédita para o País.
O
Brasil e Austrália são rivais em relação à Pequim? Na verdade não. Há muito
espaço para ambos os países prosperarem com o desenvolvimento econômico da
China e ao longo do tempo as empresas brasileiras e australianas
colaborarão para maximizar as suas esferas de influência. Ambos serão grandes
fornecedores das necessidades energéticas da China e vão trabalhar com as
necessidades agrícolas e industriais de energia limpa. O Brasil, como um grande
fabricante, trabalhará mais com a China em cadeias de suprimentos industriais e
a Austrália focará mais em serviços de construção, infraestrutura, arquitetura
e profissionais para ajudar a desenvolver as cidades em estágio menos avançado.
Os fortes laços da Austrália com a China na Educação vão atrair mais
colaboração do Brasil. É claro que o Brasil estará em destaque com a Copa do
Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Rio e isto ajudará a atrair a ainda
mais atenção e investimento global.
Em
resumo, as duas nações são grandes terras do sul com muito surf, areia, sol e
bronzeado, mas economicamente ambas desempenharão um papel importante no futuro
da China.
*
Tim Harcourt foi o Mestre de Cerimônias da Universidade de Melbourne no recente
Diálogo com a América Latina. Ele é o JW Fellow Nevile e Professor
Adjunto em Estratégia de Negócios Internacionais da Escola de Negócios da
Austrália, UNSW, Sydney, Austrália e autor de The Airport Economist and The
Airport Economist Goes to Rio. www.timharcourt.com
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