SUIÇA COGITA FREAR IMIGRAÇÃO DA UNIÃO EUROPÉIA

A livre circulação não é em sentido único: desde 2002 os suíços podem trabalhar na UE.


Diante do aumento do número de desempregados, o Conselho Federal (Executivo suíço) pretende discutir a possibilidade de restringir a imigração de mão-de-obra europeia.

Essa medida está prevista numa cláusula de proteção dos acordos bilaterais que o país mantém com a União Européia (UE). Portugueses e alemães seriam os primeiros afetados.

Uma decisão governamental sobre o assunto poderá ser tomada por proposição da ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, disse Serge Gaillard, diretor de trabalho da Secretaria Federal de Economia (Seco), em uma entrevista ao jornal Le Matin Dimanche.

A ministra da Economia, Doris Leuthard, apóia a proposta, que se refere à eventual aplicação da chamada "cláusula da válvula de escape". Essa cláusula permite à Suíça limitar o número de imigrantes quando a taxa de imigração aumenta demais.

O porta-voz do Ministério da Justiça, Philippe Piatti, confirmou à agência de notícias SDA que o Conselho Federal, "baseado nas mais recentes estatísticas do mercado de trabalho e da migração", decidirá em breve sobre a aplicação ou não da cláusula de proteção.

Segundo o portal Tagesanzeiger.ch/Newsnetz, Widmer-Schlumpf e Leuthard são da opinião de que Conselho Federal deve pelo menos discutir o assunto. O aumento do número de estrangeiros desempregados fortaleceria os argumentos das ministras.

Segundo Gaillard, a atual taxa de imigração é suficientemente alta para adotar a "cláusula da válvula de escape" e fixar contingentes, o que só pode ser feito por no máximo dois anos. No entanto, ele parte do princípio de que, nos próximos meses, virão menos estrangeiros ao país.

Desempregados da UE



O assunto entrou na agenda política e midiática depois que a Seco registrou em abril 136.700 desempregados na Suíça (3,5% da população economicamente ativa) – quase a metade de estrangeiros. A maioria destes vem dos Bálcãs (Sérvia, Montenegro e Kosovo), mas também há europeus entre eles.

Por exemplo: em 2007, havia em média 2.867 alemães desempregados na Suíça; em abril deste ano, esse número havia subido para 5.337. Segundo as estatísticas da Seco, o número de portugueses desempregados aumentou de 5.621 em 2007 para 8.144 em abril de 2009.

Segundo o Tagesanzeiger.ch/Newsnetz, por serem os grupos de imigrantes que mais crescem, alemães e portugueses poderiam ser os primeiros atingidos por uma possível limitação da imigração.

O número de imigrantes, porém, já começou a cair – entre os alemães, a queda foi de 60% no primeiro trimestre de 2009. Isso porque, mesmo com a livre circulação, só pode fixar residência na Suíça o trabalhador que tiver contrato de trabalho.

Livre circulação em três fases



A abertura mútua do mercado de trabalho entre a Suíça e a UE compreende três grupos de países: os "antigos membros da UE", bem como Malta e Chipre (UE-15); os oito países da expansão do bloco para o leste (UE-8); e a Romênia e a Bulgária, para os quais a Suíça ampliou a livre circulação através de plebiscito realizado em fevereiro passado. Para cada um desses grupos, a abertura ocorre em três fases.

Na primeira fase, a livre circulação de pessoas é limitada. Trabalhadores nacionais têm preferência e há contingentes para estrangeiros. A Suíça encontra-se nessa fase com a UE-8, bem como com a Bulgária e a Romênia.

Na segunda fase, vale a livre circulação sem limitação para a imigração, mas existe uma cláusula de proteção (a "válvula de escape"). Quando a imigração supera em 10% a média dos três anos anteriores, a Suíça pode limitar a entrada de imigrantes a essa média mais 5%. Nessa fase, o país se encontra com a UE-15.

A terceira fase representa a livre circulação total de pessoas; a cláusula de proteção é eliminada. Com a UE-15 e a UE-8, essa fase começará em 1° de julho de 2014; com a Romênia e a Bulgária, em 1° de junho de 2019.

Medida necessária?



Teoricamente, o governo suíço já poderia ter aplicado no ano passado a cláusula de proteção em relação à UE-15 (com esses países vale a livre circulação desde 1° de junho de 2007). Não o fez porque a conjuntura econômica era boa e as empresas suíças precisavam da mão-de-obra estrangeira.

Também agora, apesar da crise e da pressão de alguns políticos, principalmente de centro, líderes sindicais e empresariais não acreditam que seja necessário aplicar a cláusula de proteção.

"Com essa cláusula, a imigração só poderia ser reduzida em 5%. Mesmo sem essa medida ela terá uma queda maior", prevê Daniel Lampart, economista-chefe da União Sindical Suíça (USS).

Segundo o presidente da Federação dos Empregadores Suíços, Thomas Daum, não há problemas no mercado de trabalho que possam ser atribuídos à imigração. "Além disso, seria problemático emitir sinais de protecionismo."

Essa opinião é partilhada também pela líder da bancada social-democrata no Parlamento, Ursula Wyss. "A Suíça continua interessada num mercado de trabalho aberto", explica, lembrando também os 400 mil suíços que trabalham nos países da União Europeia.

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