QUARTO BOLETIM SOBRE A EXPEDIÇÃO PELO DESERTO DO SAARA

São Paulo, 15 de março de 2010 – “Chegamos ao posto fronteiriço - uma pequena casa - no meio do nada, com areia e dunas por todos os lados. Ao entregar meu passaporte o militar Saharoui teve um susto e parecia que estava vendo um alienígena. Nenhum estrangeiro entra por ali vindo da Mauritânia, mas o que ajudou foi ser brasileiro, aqui na África isso ajuda e muito.

Disse que enviaria nosso caso para o Quartel, que fica distante 80 km dali. Pegou meu passaporte e os documentos da minha equipe e pediu para esperarmos.Ficamos até o final da tarde esperando.

8 horas depois, aparece um veículo militar com 3 oficiais da Frente Polisário e nos pedem para segui-los. Não disseram nada e nem com quem estavam nossos documentos. Saímos atrás deles, mas nosso carro não andava e pior, ...eles estavam voltando para o sul ..de onde tínhamos vindo!

Escureceu, perdemos o veículo de vista e uma hora depois eles estavam nos esperando numa duna. Um deles falando espanhol perfeito ( muitos dos Polisarios estudaram em Cuba ) e subitamente me disse: Você tem que ir mais 50 km para o Sul, até a cidade de Bir Lehlou e nos aguardar na porta de entrada da vila. Pensei: os documentos?....Nada! Dormimos nas dunas naquela noite. Na manhã seguinte chegamos bem cedo na vila. Ficamos até o meio dia aguardando... quando aconteceu um fato...do qual senti muito medo.

Fazia tempo que minha boca não secava.... coração batia acelerado. Os mesmos militares chegaram, todos de turbante, me tiraram do carro e me colocaram na frente da viatura e partiram comigo rumo ao deserto. Neste momento, pedi para todos os meus anjos da guarda ( que já devem estar bem cansados )...que me iluminassem, e que acontecesse o melhor. Não sabia o que havia acontecido com o Saleh nem com a equipe. Enquanto a viatura se deslocava, um oficial da inteligência Polisário me interrogava em francês.
Contei toda a história e que eu estava ali para escrever sobre a causa Polisario Detalhe: raras são as pessoas no Brasil que sabem da existência de mais de 200 mil refugiados esperando a 15 anos uma resolução da ONU. E que como estava na Mauritânia - que era bem perto - queria participar também dos festejos do dia da Revolução. O interrogatório continuou por mais alguns minutos e o que mais intrigava ele era porque eu não tinha vindo como todo mundo: pela Argélia!

Desconfio que conquistei o oficial, quando eu disse a ele que tinha vindo não com papéis ou vistos, mas com o coração. Neste momento as coisas mudaram.
Ele me olhou e disse : Você é nosso convidado para os festejos da Proclamação da República que vai acontecer no nosso quartel, a poucos quilômetros daqui.
E mais surpreendente ainda: me convidou para se Embaixador da causa Saharoui no Brasil. Somente uma viagem surreal pode prover um fato assim!

De quase presos e deportados, viramos convidados e iríamos participar de uma festa , na qual estava também, o Ministro da Defesa Polisario.
Festa da Proclamação da República Saharoui
Viramos hóspedes no quartel da 5ª. Divisão da Frente Polisario. Ganhamos um crachá com a foto do mártir da revolução e durante um dia inteiro, eu tive uma aula de história e de humanidade diretamente com os oficiais que guerrearam durante anos com o Marrocos.
A historia é a seguinte:

Até 1975, o Sahara Ocidental era colonizado pela Espanha que abandonou este país sem nenhuma infra estrutura e desprovida de tudo. Neste momento a Mauritânia e o Marrocos se aproveitaram da situação e invadiram o Sahara Ocidental ( que é rico em fosfato e pesca ) e dividiram o país. Aqui começa uma das mais incríveis histórias militares do século passado.
Foi criada a Frente Popular para a Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Ouro , a Frente POLISÁRIO. Um povo que não tinha nem estudo e qualquer força militar lutou durante 15 anos contra umas das maiores potências militares da África, o Marrocos, e contra a Mauritânia. A Mauritânia, eles conseguiram expulsar do Território. Já com o Marrocos, eles tiveram que recuar.

Mais de 200 mil saharouis se refugiaram na Argélia e o Marrocos construiu um muro de 2.000 km ( uma nova versão para o extinto Muro da Vergonha que dividia Berlin ) separando este povo do seu território. Isso mesmo, um muro com 3 metros de altura e com bases militares a cada 5km...Calcula-se que tenham mais de 170 mil militares marroquinos patrulhando este muro. A ONU busca uma solução para este conflito através de um referendo que não acontece a 20 anos e deu pra sentir que os Saharouis estão no limite. Uma volta às armas não deve demorar muito.
Vale a pena pesquisar sobre este povo e entender sua luta.
Passei o dia vendo o desfile Militar e também ouvindo histórias dos combates que eles travaram com o Marrocos. Eles mesmos desenvolveram varias técnicas de combate que foram incluídas em Almanaques Militares.
Depois de tudo, só posso agradecer a Deus por poder estar aqui para sentir , ouvir e propagar estas histórias com vocês, com o mundo.
Amanhã parto o inicio da travessia a pé...finalmente”.

Este e outros boletins semanais serão divulgados via emissora de rádio e também em seu site oficial www.tocolenzi.com. As informações são transmitidas via satélite, por meio de soluções da Arycom.

A comunicação via satélite é cada vez mais adotada em projetos de aventura como a expedição de Lenzi. A solução escolhida pelo aventureiro, chamada Sabre 1 reúne características importantes e necessárias para expedições do tipo, como tamanho (menor do que um laptop); abrangência de cobertura (opera em qualquer região do mundo com cobertura da rede de satélites da Inmarsat) e rigidez (o equipamento possui uma caixa robusta e resistente, podendo ser utilizado nos lugares mais hostis do planeta).



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