DICA DE VIAGEM: NO RITMO CALIENTE DE HAVANA

NO RITMO CALIENTE DE HAVANA

A capital do último país socialista do ocidente guarda agradáveis

surpresas a quem se aventura em conhecê-la de perto

Por Juliana Bellegard

Ela inspirou canções, histórias e poemas, empresta seu nome para charutos e alfajores. Esta é Havana, a charmosa capital de Cuba, uma cidade cercada de história – seja pela arquitetura, seja pelo seu emblemático governo ou pela sensação de estar suspensa no tempo. A ilha foi colonizada por espanhóis e ocupada militarmente pelos Estados Unidos. Toda esta briga tem um motivo: o país está em uma posição geográfica estratégica, é vista como a entrada do Novo Mundo. Tornou-se totalmente independente em 1959, com a Revolução Cubana de Fidel Castro, que mantém desde então o regime socialista.

Ao andar por Havana, é impossível deixar de notar o legado de todas estas mudanças, que formam uma verdadeira colcha de retalhos. De um lado, construções e monumentos de influência espanhola; de outro, os pequenos residenciais e as casas com arcadas, colunas e varandas dos mais diversos estilos. Há estátuas e cabarés, luxosos carros dos anos 50 dividindo a rua com bicicletas, o retrato de Che Guevara e uma réplica do Capitólio. A simpatia de seus 2,4 milhões de habitantes é misturada com a constante oferta de charutos, comida, rum e serviços de guia turístico em troca de dólares americanos.

Não se pode deixar de lado a efervescência cultural, motivo pelo qual é procurada por muitos turistas que, quando a conhecem, ficam para sempre encantados. Havana é local de importantes eventos de caráter internacional, como o Festival de Ballet de Havana, o Festival do Novo Cinema Latino-Americano e o Festival Jazz Plaza. Também é onde cada pequeno bar tem um músico, e cada um deles está sempre disposto a dar uma canja e animar quem esteja em volta. É a terra de muitos dos participantes do cultuado documentário de Wim Wenders Buena Vista Social Club (1999), dos escritores José Martí e Alejo Carpentier, de Israel "Chachao” Lopez – inventor do mambo e do consagrado ator Andy Garcia.

Retranca 1 – PREPARE-SE PARA O PASSEIO: HÁ MUITO PARA SE VER

Desvendar os segredos de Havana requer um espírito curioso. A melhor maneira de conhecê-la ainda é um bom passeio a pé. O centro histórico da cidade, chamado Habana Vieja, ou Havana Velha, foi tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1982. Lá estão a maioria dos pontos turísticos obrigatórios da cidade e as construções que remetem a outros tempos. A Plaza de Armas e o Castillo de la Real Fuerza – praça e o castelo onde se instalavam o exército colonizador – datam do século XVI, quando o país ainda estava sob domínio da coroa espanhola. A Plaza de la Catedral, cuja igreja começou a ser erguida em 1730, hoje abriga apresentações musicais à noite.

Ao andar mais um pouco, o visitante se depara com dois prédios no mínimo curiosos para um país que vive há 50 anos em um regime socialista. O Capitólio cubano é inspirado na sede do parlamento norte-americano, e atualmente abriga o Museu de Ciências Naturais. Já o luxuoso Museu da Revolución, que abrigou o Palácio Presidencial e foi decorado pela loja novaiorquina Tiffany’s, hoje revive a história dos 50 anos da Revolução Cubana. Ambas as construções foram concluídas nos anos 20, antes da tomada do poder por Fidel Castro e seus revolucionários.

Outra visita imperdível é a Plaza de la Revolución. Palco dos famosos discursos de Fidel Castro, abriga o Memorial José Martí, homenagem ao político e escritor modernista havanês. É o prédio mais alto da cidade, de onde se tem uma vista espetacular. Também na praça está o edifício do Ministério do Interior e da Defesa, que estampa um retrato estilizado do revolucionário Che Guevara com sua célebre frase hasta la vitoria siempre. Nela ainda podem ser vistos o Comité Central do Partido Comunista de Cuba e o Teatro Nacional de Cuba.

O bairro de Centro Habana é uma área mais residencial, onde é possível perceber o porquê de Alejo Carpentier chamar Havana de “cidade das colunas”. Grande parte dos edifícios exibe uma ou mais destas estruturas em sua fachada. Já no bairro de Vedado estão o Hotel Nacional, que já abrigou figuras importantes como Winston Churchill, Frank Sinatra, Ava Gardner, além de diversos chefes de Estado; e a famosa Sorveteria Coppelia, cenário do filme Morango e chocolate (1994), onde está o delicioso sorvete artesanal cubano. Próxima à sorveteria está a avenida da orla, o Malecón, pelo qual é possível contornar Havana à pé.

Aliás, perder-se a pé pelas ruas de Havana durante todo o dia, e também à noite, é uma experiência única, mas os meios de transporte cubanos também pode ser. Aproveite para andar em um dos cocotáxis, motocicletas adaptadas para carregar passageiros, uma alternativa divertida e refrescante aos táxis comuns. Gastando um pouco mais é possível alugar carros antigos, como um Buick, Dodge, De Sotto, Fairlane ou Impala, completando a sensação de conhecer a antiga Cuba.

Retranca 2 – EXPERIMENTE TUDO O QUE HÁ DE MAIS TRADICIONAL

Um dos produtos mais típicos de toda a ilha é o tabaco, mais específicamente os charutos. Os cubanos chamam-os de puros, e eles são produzidos principalmente no estado de Pinar Del Río, a oeste da ilha. Se decidir levar alguns de volta na bagagem, recomenda-se um certo cuidado ao comprá-los em Havana. Procure sempre as lojas de turistas, pois muitos cubanos oferecem o produto na rua, mas as caixas podem ser falsificadas. Uma dica é passar na fábrica Partagás, que possui um dos tabacos mais exclusivos de Cuba. Fundada em 1845, ela fica próxima ao Capitólio. Aqui, é possível acompanhar todo o processo de fabricação dos charutos, além de comprá-los por um bom preço.

Desfrutar da música e do rum cubanos também faz parte do roteiro de tradições em Havana. É em Habana Vieja que ficam os lugares preferidos de Ernst Hemingway, que adotou a cidade como sua casa durante 22 anos. O escritor norte-americano costumava alternar visitas no La Bodeguita del Medio e no El Floridita, para saborear seus drinques preferidos – o mojito e o daquiri, respectivamente. O El Floridita homenageia seu célebre cliente com um busto de bronze, que pode ser visto no lugar preferido de Hemingway no balcão. Também algumas de suas obras mais importantes nasceram em Havana, como O Velho e o Mar, fruto de seu contato com pescadores locais.

Ambos têm apresentações de música ao vivo, mas a verdade é que a salsa, denominação que engloba todos os ritmos cubanos, ecoa de quase todos os restaurantes e bares, além das diversas casas de shows. O cabaré Tropicana é famoso por seus majestosos espetáculos em seus três palcos e, apesar de seu preço salgado, vale a pena conferir um deles. O Havana Café, próximo ao hotel Meliá Cohiba, é uma boa alternativa para quem quer dançar. A música e a animação ali duram até a madrugada, a semana inteira, e os espectadores podem até subir ao palco entre uma apresentação e outra. No mesmo estilo, a Casa de la Musica tem dois endereços, em Centro Habana e no sofisticado bairro de Miramar.

A comida criolla, como se chama a cozinha tradicional cubana, é feita à base de frituras, banana e carne de porco, e também arroz e feijão. Degustá-la significa comer, pelo menos uma vez, em um paladar. Estes pequenos restaurantes, instalados em sua grande maioria na casa da própria família, são uma opção para comer sem gastar muito. Alguns cubanos ganham uma comissão por indicar os paladares aos turistas, portanto prepare-se para ser abordado por muitos deles. Mas não deixe de provar a comida de algum restaurante. Além do El Floridita, você pode experimentar o Zaragozana, que tem um preço mais em conta. Outra opção é o Divina Pastora, instalado em um casarão ao lado de um forte do século XVIII, especializado em peixes. Para a madrugada, tente o Café del Oriente, que fica aberto 24h. Ele é considerado um dos melhores restaurantes de Cuba, mas também um dos mais caros.

Retranca 3 – O SOCIALISMO INVESTINDO NO TURISMO

Nos últimos anos, Cuba vem atraindo cada vez mais turistas, como forma de contornar a crise financeira pela qual vem passando. Os dados oficiais de 2007 mostram que o país registrou a entrada de 2,1 milhões de visitantes, grande parte vinda do Canadá e da Inglaterra. Os brasileiros ainda são uma pequena parcela - apenas 12 mil tupiniquins visitaram Havana naquele ano. Uma série de medidas foram implementadas para tornar o turismo mais competitivo, como os próprios paladares, pois as famílias têm permissão do governo para abrir o estabelecimento em suas casa, para servir até 12 pessoas.

Com opções de hospedagem para todos os gostos, infraestrutura hoteleira não deixa a desejar. Exemplo é o Hotel Nacional, no bairro de Vedado, é considerado um dos mais belos da cidade, e já abrigou muitas celebridades em seus apartamentos. Quem busca conforto e sofisticação pode procurar uma das unidades da rede Cubanacan, como o Comodoro Hotel, no bairro residencial de Miramar. O Habana Libre localiza-se próximo ao Malecón e herdou seu estilo da rede Hilton, da qual fazia parte antes da Revolução Cubana. Como não podia deixar de ser, também é possível hospedar-se no hotel em que morou Ernst Hemingway, o Ambos Mundos. Foi aqui, em Habana Vieja, que o escritor iniciou um de seus mais famosos romances: Por quem os sinos dobram. Grande parte desses hotéis oferecem alguns passeios pela cidade e para outras partes do país, e é possível agendá-los no mesmo dia.

Embora banhada pelo mar, Havana não tem praias com areia, sendo cercada por encostas de pedra. Caso queira esticar a estadia em Cuba, algumas agências já oferecem pacotes que combinam a capital com uma cidade de praia. Varadero, há mais ou menos duas horas de Havana, uma das mais procuradas por seus grandes hotéis e resorts, além do mar azulíssimo. Outras boas opções são as ilhas de Cayo Coco, menos luxuosa do que Varadero; e Cayo Largo, considerada a melhor praia do país.

Para mais informações turísticas, acesse o Portal do Turismo em Cuba: www.cubatravel.cu.

Retranca 4 – TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA CHEGAR LÁ

Para os marinheiros de primeira viagem, valem algumas dicas sobre o país. A língua oficial de lá é o espanhol, mas é possível se comunicar facilmente em inglês. O clima é quente o ano todo, mas a alta temporada vai de dezembro a abril. Recomenda-se evitar a chamada “temporada de furacões”, durante o outono cubano, cujo pior mês é outubro. Para entrar em Cuba é necessário ter visto, que pode ser feito por meio da embaixada ou consulado cubano (http://embacu.cubaminrex.cu/brasil). Por causa do intenso policiamento e fiscalização na ilha, todos os turistas devem andar com seus passaportes. Também para algumas compras é necessário apresentar o documento.

Em Havana e em todo o país, o melhor meio de se locomover é utilizando os táxis, bicicletas ou carros alugados. Os ônibus, conhecidos como camelos, são ruins e estão sempre lotados. O problema maior é o dinheiro. Os pesos cubanos são usados só pelos próprios moradores, e não pelos turistas. Há o peso convertível, que você pode trocar no próprio aeroporto, ao chegar em Cuba. O melhor a fazer, no entanto, é levar Euros, que não são taxados como o dólar americano, mas são aceitos na maioria dos lugares. Cartões de crédito e traveler checks são mais raros. Fique atento ao relógio: Cuba, tem uma diferença de duas horas a menos em relação a Brasília, se considerado o horário de verão brasileiro.

A Copa Airlines oferece 27 voos semanais do Brasil para Cuba. São 14 voos semanais saindo de São Paulo do Aeroporto Internacional de Guarulhos às 3h50 e às 12h45; sete saindo do Rio de Janeiro do Aeroporto Antonio Carlos Jobim às 12h25; três saindo de Manaus do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes às 17h e três saindo de Belo Horizonte do Aeroporto Tancredo Neves às 4h28. Os preços das passagens (ida e volta) saem a partir de 887 dólares. Informações: 11/3549-2672 (a partir de São Paulo), 0800-771-2672 (de outros estados) ou www.copaair.com. Portanto basta escolher de qual cidade você quer embarcar e preparar as malas.

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